segunda-feira, 29 de agosto de 2022

No primeiro debate na Band, a impressão que tive é que a vencedora foi a Vera Magalhães

 (Contém ironia e sarcasmo)


Erick Vizoki

Sim, eu não perdi e assisti o evento do último domingo (28/08) de ponta a ponta.

Também passei boa parte desta segunda-feira (29/08) lendo e assistindo os mais diversos comentários, vendo várias matérias. Inclusive opiniões de comentaristas de esquerda e de direita. Como todos sabem, sou antiesquerdista e apoiador da candidatura e do governo do Jair Biroliro.

Mas confesso que, apesar do já esperado, o mais do mesmo de sempre, me decepcionei um pouco com nosso presidente, que deu uma derrapada grave ao cair na “pegadinha” da jornalista canhota da TV Cultura, Vera Magalhães. Aliás, já esperávamos mais uma arena de algozes e carrascos de Bolsonaro. E certamente ele também já esperava por isso, como já havia informado pouco tempo antes no programa Pânico, quando foi questionado se participaria do debate.

Vera Magalhães foi a primeira a partir para a ofensiva contra o presidente, ao escolher o ex-presidiário Lula para responder sua pergunta e escolher Bolsonaro para comentar a resposta do meliante nonodedático. Vera questionou a ação do Executivo federal na questão da pandemia, sobre o atraso na compra de vacinas, sobre a “ineficiência” do governo federal em relação à Covid, blá-blá-blá... Não foi uma pergunta, foi literalmente uma acusação, e passou a bola para Lula cabecear. Em sua vez de comentar a resposta do descondenado, Bolsonaro não se segurou (e esse foi seu grande erro nesse debate) e, antes de comentar a resposta de Lula, o presidente criticou a postura da jornalista dizendo que não podia esperar outra coisa dela, que ela era uma “vergonha” para o jornalismo brasileiro.

A partir daí o que se viu foi praticamente um debate voltado à misoginia, ao ódio de Bolsonaro às mulheres. A candidata feminista Simone Tebet (MDB) chegou ao ponto de perguntar a Bolsonaro, bem objetivamente, qual o motivo de seu “ódio” contra as mulheres. Uma outra jornalista também foi na mesma linha e insistiu no tema sobre a suposta misoginia do presidente.

Do outro lado, o principal adversário do presidente atuou como esperado: saindo pela tangente quando questionado sobre seu vício em corrupção, inventando números sobre seus dois mandatos na presidência, tentando convencer o público que conseguiu transformar água em vinho, que o seu governo foi o melhor da história da humanidade mesmo com a roubalheira desenfreada, e ainda tentou convencer que essa roubalheira foi uma “vantagem” em seu governo, porque só se soube que havia corrupção porque seu governo foi “transparente”. No final do programa, aproveitou o gancho dos discursos feministas para, pela primeira vez, sair em defesa da ex-presidente Dilma Rousseff, a qual procurou, até agora, manter na surdina, para que esta não abrisse a boca e falar as costumeiras asneiras que poderiam comprometer sua campanha.

Acreditem ou não, no final achei que Ciro Gomes saiu-se bem e as duas candidatas, Simone Tebet e Soraya Thronicke (União Brasil), também podem ter ganhado um pouco mais de pontos e relevância nesse evento. Não por méritos próprios, mas pelas derrapadas de Lula e Bolsonaro, que polarizaram o debate assim como nas pesquisas. Ah, e tinha também o candidato do Novo, Luiz D’Ávila, que parecia mais um mediador do que um debatedor, que defendeu o tempo todo a iniciativa privada, até de maneira coerente, e que é também uma bandeira do atual governo. D’Ávila parecia até entender que é o azarão nessa disputa e pareceu deixar claro que seu voto e seu apoio, em um possível segundo turno, será mesmo para Bolsonaro ao atacar o descondensado o tempo todo ao defender o capital e criticar o socialismo.

Simone Tebet saiu-se muito bem, na minha opinião, apesar de se esquivar de alguns questionamentos e sair ilesa quando defendeu o feminismo, mas não condenou os ataques a duas médicas respeitadas na CPI do Circo, que “investigou” possíveis irregularidades/irresponsabilidades do governo na atuação para combater a pandemia do novo coronavírus. Quando questionada sobre isso, justificou que, como fez parte da bancada da CPI do Circo, teve acesso a documentos que comprovaram fraudes e irregularidades, mas não se posicionou acerca das ofensas, humilhação e acusações às duas médicas Nise Yamagushi e Mayra Pinheiro. Ao mesmo tempo, Tebet defendeu que seu governo teria 50% de mulheres, ou até mais, na composição de sua equipe ministerial e secretariado.

Soraya Thronicke também surpreendeu, até porque eu nunca tinha ouvido falar dela. Até começou bem, mas após o tema do debate bandear para a defesa das mulheres depois do arroubo de Bolsonaro com a provocação de Vera Magalhães, Soraya virou “onça”, nas próprias palavras dela, após dissertar sobre paz e amor, sobre sua bondade, serenidade e calma permanente. Qualidades que desapareceram rapidamente após todas as mulheres presentes no programa, entre candidatas e jornalistas, centrarem fogo na “misoginia” de Bolsonaro. Em certo momento, parecia mais um debate sobre uma eleição para alguma associação feminista, e não para presidente.

No final, entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Não sem sequelas. Mesmo que bolsonaristas estejam dizendo que o presidente “venceu” esse debate, eu não posso concordar. Pode não ter perdido, mas também não venceu. A cilada em que caiu, armada por Vera Magalhães, pode ter afastado votos de indecisos, principalmente de indecisas. Difícil entender como Biroliro engoliu essa cilada. Certamente não perdeu votos de nenhum bolsonarista, assim como Lula também não perde voto de nenhum lulopetista. Mas certamente não agradou a ala feminina do eleitorado que ainda estava indecisa e, pior, que ouve o tempo todo o papo de misoginia bolsonarista.

No fim, o assunto desta segunda-feira foi Vera Magalhães que, pelo jeito, foi o destaque e a grande vencedora nesse debate da Band.

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