segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A volta às origens do sindicalismo após o fim do imposto sindical


Erick Vizoki

Como são as coisas...

O jornal ‘O Estado de São Paulo’ publicou hoje, 25/02/2019, uma interessante e importante matéria sobre a situação dos sindicatos no Brasil após a implantação da reforma trabalhista em julho de 2017. Matéria um pouco tardia, uma vez que já se passaram quase dois anos de sua aprovação.

Neste mesmo Bloki publiquei matéria, em 16/05/2017, sobre o que pensa dois veteranos sindicalistas sobre o fim do imposto sindical.

Antes da Constituição de 1988 os sindicatos de trabalhadores eram mais fortes, pois já agregavam diversas categorias profissionais diferenciadas dentro de um único sindicato. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, por exemplo, já foi um dos sindicatos mais poderosos da América Latina, e é um dos modelos mais notórios da situação em que se encontra o movimento sindical hoje. Muitos sindicatos de trabalhadores tinham nomes gigantescos, por conta das categorias profissionais que representavam. Hoje, esses nomes estão se reduzindo cada vez mais.

Assembleia de trabalhadores das áreas de alimentação e frigoríficos aprovam fusão de sindicatos (Foto: David Paiva/Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação de São Paulo)

Após a Constituição de 1988, que deu mais "liberdade" aos sindicatos, livrando-os das amarras do Ministério do Trabalho e do Estado, e ficou muito mais fácil criar novos sindicatos, o que houve foi uma dissolução de diversas entidades sindicais. No exemplo citado, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo agregava trabalhadores de diversos ramos, como os setores automobilístico, de refrigeração, fábricas de parafusos, ferramentas, tornearia, entre diversos outros. Depois de 1988, diversos novos sindicatos de trabalhadores surgiram, para representar categorias mais específicas. Com isso, sindicatos como o dos metalúrgicos acabaram se dissolvendo em dezenas de outros sindicatos menores, o que enfraqueceu sua representatividade. Sindicatos de bancários, por exemplo, que representavam trabalhadores em geral que trabalhavam em agências bancárias, também perderam associados. Surgiram sindicatos de gerentes de bancos, de procuradores de bancos, de contínuos e por aí vai. 

O fenômeno que vemos agora é uma espécie de "volta às origens". Com o fim do imposto sindical, diversas entidades sindicais estão voltando a se fundir para conseguir aumentar o número de seus associados e assim conseguir manter o padrão de serviços oferecidos outrora. Muitos sindicatos tinham até gráfica própria para imprimir seus informativos. Desde 1988, com o tempo, os sindicatos foram, aos poucos, abrindo mão dessa estrutura. Quem ganhou, com isso, foi a indústria gráfica. 

As colônias de férias próprias de diversos sindicatos acabaram se transformando numa grande dor de cabeça. Com o enxugamento na arrecadação, ficou mais difícil arcar com o IPTU dessas estruturas, pagar funcionários e investir em infraestrutura. A solução foi abrir as colônias de férias para outras categorias profissionais e até mesmo para o público em geral. Ou fechá-las.

Atualmente temos quase 17 mil entidades sindicais no Brasil, entre sindicatos de trabalhadores e de empregadores. É o país com o maior número de sindicatos no mundo. Donde concluímos ser um grande negócio, assim como igrejas evangélicas, outro promissor nicho de faturamento baseado na doutrinação.

Para se ter uma ideia, a título de comparação, o Reino Unido possui 168 sindicatos; Dinamarca, 164; Argentina, 91 sindicatos; EUA e África do Sul, 190; Alemanha, 16 (números aproximados).

"O número de sindicatos saiu tanto do controle que há casos esdrúxulos como o 'Sindicato dos Empregados em Entidades Sindicais do Estado de São Paulo', o 'Sindicato das Indústrias de Camisas para Homens e Roupas Brancas de Confecção e Chapéus de Senhoras do Município do Rio de Janeiro' e o 'Sindicato da Indústria de Guarda Chuvas e Bengalas de São Paulo', posteriormente fechado por falta de associados (Fonte: Ilisp)

O fim do imposto sindical foi comemorado por grande parte da sociedade civil, e até mesmo de trabalhadores, que eram tungados com um desconto injusto em seus contracheques de um dia de trabalho todo ano, mesmo sem serem sindicalizados. O resultado foi a criação de centenas de sindicatos fantasmas, que só existiam no papel, em gavetas, ou mesmo sindicatos inertes, pelegos, sem representatividade, que nem sequer tinham sede ou endereço. Existiam apenas para receber o famigerado imposto sindical.

Agora a história é outra. Ou a mesma de antes. Sindicatos decanos, com megaestruturas, precisam se reinventar e voltar a agregar as categorias diferenciadas, como antes. Os sindicatos de cartório devem morrer, um a um, em breve, justamente por falta de atividade e de representatividade. Que assim seja. 

Vale ressaltar que esses sindicatos de trabalhadores são, em sua esmagadora maioria, dirigidos por militantes de esquerda. Não é preciso ser muito esclarecido ou inteligente para atentar ao fato de que muitos sindicatos surgiram por pura ganância de seus dirigentes. Trabalho zero, dinheiro muito. O jogo virou. Agora os sindicalistas terão de mostrar serviço e, pior, não poderão contar com um governo de esquerda, conivente com o butim conquistado com mentiras e traições aos trabalhadores. Sim, porque existem muitos sindicalistas "fura-greves", que se vendem para as empresas em detrimento da causa dos seus representados.


É... O País está mudando.

LINK PARA A MATÉRIA DO ESTADÃO: