Hoje o sambista morreu
Jair com os filhos Luciana Mello e Jairzinho. (Foto: Reprodução Blog Suicida.net) |
Erick Vizoki
É impossível não ouvir o nome de Jair Rodrigues (06/02/1929 - 08/05/2014) e
imediatamente associá-lo à música de Geraldo Vandré e Théo Barros,
"Disparada".
Em 1965 Jair apresentava o programa "O Fino da Bossa" ao lado de Elis
Regina e, em 1966, participou do II Festival Nacional de Música Popular
Brasileira num momento crítico de nossa história: dois anos antes havia sido
instalada no Brasil uma ditadura militar, época conhecida também como Regime
Militar.
Apesar de esses
lendários festivais também serem conhecidos como "Festivais da
Record", havia um similar iniciado pela extinta TV Excelsior um ano antes
da TV Record iniciar os seus. Em 1966, as duas emissoras realizaram suas
versões desse festival, sendo que a Excelsior exibiu o seu em junho e a Record
e setembro e outubro daquele ano.
Em 1966, Geraldo Vandré participou com duas músicas de sua autoria nos dois
festivais: "Porta-Estandarte" (parceria com Fernando Lona), que
acabou levando o prêmio de melhor música no festival da Excelsior, e "Disparada"
(parceria com Théo Barros), interpretada por Jair, que levou o prêmio de melhor
música no concurso da Record, prêmio dividido com "A banda" de Chico
Buarque de Hollanda.
A interpretação de Jair Rodrigues no festival daquele ano o consagrou
definitivamente, apesar de ser mais conhecido como sambista e ter dividido o
prêmio com um compositor até hoje consagrado, Chico Buarque, cuja música foi
interpretada por outro ícone da MPB na época, Nara Leão. Em primeiro lugar, consagrado
porque a interpretação fugia completamente ao gênero do cantor, o samba, mas
levou a plateia ao delírio. Em segundo lugar, a explicação veio dele mesmo em
uma entrevista que assisti há poucos anos, não lembro em que canal e programa.
Na época desses
festivais, a maior parte das canções eram protestos contra a ditadura militar
instalada em 1964. Muitos compositores e intérpretes foram perseguidos,
torturados e obrigados a se exilarem do País. Gerando Vandré, autor de
"Disparada", é até hoje considerado um símbolo de resistência e um
dos maiores críticos do Regime Militar através da música. Foi preso e torturado
assim que acabou de interpretar sua canção "Pra não dizer que não falei
das flores", no Festival Internacional da Canção de 1968, ocorrida no
Maracanazinho (RJ), que conquistou a segunda colocação. Segundo o depoimento de
Jair Rodrigues na entrevista que citei, ele até hoje (ou até ontem) não
entendeu porque não foi perseguido pelos militares na época.
"Disparada" também era uma forte canção de protesto, bem ao gosto de
Vandré. Mas o próprio Jair Rodrigues acredita que foi sua interpretação que o
salvou. Conhecido por todos como um eterno "moleque", sempre bem
humorado, brincalhão e de bem com a vida, naquela entrevista Jair acredita que
foi sua performance divertida, mas não menos poderosa, que o livrou dos porões.
Jair com Elis Regina, apresentando o programa "O Fino da Bossa" (Foto: Divulgação/Tribuna do Norte) |
Não vou abrir aspas
aqui, porque não encontrei a tal entrevista, mas me lembro que ele chegou a
dizer que sua atitude no palco acabou ofuscando o conteúdo crítico da canção.
Jair Rodrigues faleceu hoje (08/04/2014). Mas, segundo informações, ele entrou
na sauna de sua casa, em Cotia (SP), na noite anterior, mas só foi encontrado
às 10h de hoje. As causas do falecimento ainda serão investigadas.
Jair Rodrigues deixa dois filhos talentosos como ele, Jairzinho e Luciana
Mello, e um legado ímpar na MPB e no samba, principalmente por seu carisma,
alegria e a impressão que nos dava de estar ligado no 220V o tempo todo.
Sua presença sempre foi
marcante onde quer que estivesse, e era um dos artistas mais queridos do País.
Adeus, Jair... Obrigado por tudo que nos deu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário