quinta-feira, 11 de abril de 2013

MEIO AMBIENTE E TRÁFICO

Ambientalista alerta americanos sobre “armas químicas” na Bolívia e Peru
Mineiro realiza panfletagem e pede apoio aos soldados na fronteira amazônica

O ambientalista poços-caldense Itamar Silva tenta entregar
carta ao cônsul geral dos EUA, Dennis Hankins, pedindo
apoio ao embargo contra Bolívia e Peru
(Crédito: Erick Vizoki)
Erick Vizoki
O ambientalista poços-caldense Itamar Silva esteve em São Paulo no último dia 02 (terça-feira) para entregar uma carta ao cônsul geral dos EUA no Brasil, Dennis Hankins. O documento pede apoio dos norte-americanos junto à ONU (Organização das Nações Unidas) para propor embargos econômicos ou sanções à Bolívia e ao Peru, principais países produtores da folha de coca, matéria-prima para a fabricação de drogas como cocaína e crack, na América do Sul.

Itamar Silva vem realizando manifestações desde o início de março no Sul de Minas e, nas próximas semanas, deverá ir a Varginha, Pouso Alegre e novamente a Poços de Caldas, onde já esteve no último dia 16/03.


Silva classifica como “armas químicas de destruição em massa” as drogas produzidas nos países vizinhos e que entram e são distribuídas ilegalmente no Brasil. “O crack é um genérico de arma química tão letal quanto as armas de destruição em massa que os americanos procuraram no Iraque”, afirma o manifestante, que mora em Alfenas (MG).

“O narcotráfico faz mais vítimas fatais, seja direta ou indiretamente, do que qualquer guerra”. Para ele, não adianta apenas tratar os dependentes químicos e reprimir o tráfico local.

“Estima-se que no Brasil, México e Estados Unidos existem cerca de 5 milhões de pessoas contaminadas pelo efeito devastador dessa arma química”, calcula o manifestante.

Itamar Silva aponta como solução pressionar os governos boliviano e peruano para que criem programas econômicos e sociais que acabem com os “cocaleiros”, trabalhadores rurais que vivem, em situação de miséria, do plantio da folha da coca. “Só com uma ação radical, como um embargo, Bolívia e Peru voltariam seu povo para outras atividades e a fabricação da droga diminuiria consideravelmente”, declara.

“Seria bom também para eles mesmos, pois os ‘cocaleiros’ sairiam da clandestinidade e teriam uma vida mais digna”, observou ao justificar a proposta do embargo econômico.

Panfletagem

Silva conversa com  estudantes e pessoas
que passavam pelo local (Crédito: Erick Vizoki)
Ele esteve logo pela manhã, por volta das 8h30, na porta do Consulado Geral dos Estados Unidos, na Zona Sul de São Paulo, com o objetivo de conseguir entregar o documento a Dennis Hankins, a maior autoridade norte-americana no Brasil.

Após conseguir entregar e protocolar uma cópia da carta, distribuiu folhetos informativos sobre o movimento “Recruta a Zero”, criado por ele, para dezenas de pessoas que já estavam por lá para conseguir um visto.

Em seguida, partiu para a Av. Paulista, onde continuou a panfletagem e falou com diversos estudantes, jovens e pessoas que passavam em frente ao local por volta das 11h30, onde ficou até o meio-dia.



“Os jovens de hoje nasceram e cresceram em um Brasil redemocratizado, mas conviveram com uma geração que tem péssimas lembranças dos militares”, lembra Silva.

“Por isso não se importam muito com a grave situação por que passam nossos soldados na fronteira amazônica, como só se pudesse esperar deles agressões e torturas. A mentalidade civil de hoje é preconceituosa contra os militares das Forças Armadas”.

Descaso parlamentar

À tarde Silva esteve na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde tentou conversar com deputados paulistas ligados à Frente Parlamentar de Combate ao Crack, mas não foi recebido por nenhum deles, apesar de ter enviado e-mails antecipadamente a 16 parlamentares solicitando uma audiência.

Somente dois assessore, dos deputados Cauê Macris e Itamar Borges, retornaram sua solicitação. Mesmo assim, o ambientalista esteve nos gabinetes e foi atendido apenas pelo assessor do deputado Itamar Borges. O assessor de Cauê Macris disse á Silva que iria almoçar e, quando voltou, não recebeu o visitante mineiro.

EUA

O ambientalista irá viajar para os EUA em junho, onde deve encontrar-se com o prefeito de San Diego (California), Bob Filner, e falar com a senadora democrata Kirsten Gillibrand, para tratar do mesmo assunto. “Os americanos têm o mesmo problema, mas dependem também de ações enérgicas no Brasil, que é rota do tráfico para México e EUA”, concluiu.

Ele já morou nos EUA e em diversos países da Europa por muitos anos, e tenta realizar uma espécie de "intercâmbio" de experiências entre Brasil, EUA e, possivelmente, Canadá.

Recruta a Zero

Além do panfleto informativo que está sendo distribuído, Silva também criou uma página no Facebook, Recruta AZero, e um abaixo assinado no site Petição Pública, onde pede ao povo brasileiro que se mobilize para que seja aprovado o Plano Estratégico de Defesa Nacional, que existe desde 2008 mas está até hoje parado no Congresso Nacional.

O movimento “Recruta A Zero” tem por objetivo alertar a sociedade sobre a fragilidade de nossa defesa na fronteira amazônica do lado brasileiro. “Antes de pensar em salvar a floresta amazônica da biopirataria, desmatamentos ilegais e das queimadas, temos que salvar as Forças Armadas da falência”, declara. “Existem cerca de 100 mil Ongs, inclusive estrangeiras, e dezenas de instituições governamentais na região amazônica com a finalidade de preservá-la e, no entanto, a degradação e os crimes ambientais continuam”, explicou, justificando o motivo de encabeçar o movimento por conta própria, como “cidadão brasileiro”.

Além dos crimes ambientais e degradação da floresta, Silva ressalta, principalmente, o tráfico de armas e drogas na fronteira.

Economia cocaleira

“Os trabalhadores rurais, ou cocaleiros bolivianos e peruanos, vivem em situação miserável, ganhando cerca de R$ 1 por dia e as crianças precisam mascar folhas de coca para amortecer a dor da fome e de algumas enfermidades decorrentes dessa mesma miséria”, salienta.

“Precisamos combater o mal pela raiz”, afirma o ambientalista. “Somos hoje um país de joelhos. Assim nos querem os que do território brasileiro tiram vantagens incomensuráveis”, dispara em sua petição pública.

“Nós, brasileiros, não entendemos o fato de como dois países miseráveis, como Bolívia e Peru, conseguem colocar potências como Brasil, México e os Estados Unidos de joelhos diante da guerra contra as drogas, enquanto os norte-americanos e aliados não encontraram resistência na democratização do Iraque”, lembra o ambientalista.

Segundo ele, no Brasil morrem mais civis e militares que no Oriente Médio em uma “guerra civil” velada.

Artigo publicado pelo jornal Folha de São Paulo no último dia 20/03, assinado por Matias Spektor, informa que “o Brasil teve mais homicídios por arma de fogo do que Iraque ou Afeganistão, Colômbia ou Estados Unidos, Índia ou Paquistão”. O articulista revela que os dados são de 2010 e que há uma média de quatro mortes por hora, ou 108 por dia.

Itamar Silva acredita que é urgente e necessário que os governos desses países vizinhos adotem programas sociais e econômicos para tirar seu povo do plantio de coca, que também é usado na produção do crack. “Não é interessante para os governos da Bolívia e do Peru barrar a produção dessa droga, uma vez que proporciona um lucro absurdo a baixo custo”, afirma.

Segundo levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de usuários de crack hoje no Brasil está em torno de 1,2 milhão.

Especialistas apontam que gasta-se aqui, bem como em outros países, de 0,5% a 1,3% do PIB com o combate e tratamento ao uso de droga.


Esse gasto, de acordo com o ambientalista, poderia ser destinado à retirada dos cocaleiros da produção da folha de coca.

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