segunda-feira, 31 de outubro de 2011

MEDIA CRITICISM

O humor no fundo do poço

Erick Vizoki
Quando a gente pensa que a qualidade da programação de TV não pode piorar mais do que está, ainda nos surpreendemos descobrindo que pode sim.
Bem, este caso não é exatamente TV, mas tenta se apresentar como tal e com um nome a altura de seu humor e cartão de visita: Merd TV!!!
Hoje (31/10), durante uma entrada ao vivo da jornalista Monalisa Perrone no Jornal Hoje (Rede Globo), em frente ao Hospital Sírio-Libanês, para noticiar o início do tratamento do ex-presidente Lula de um câncer na laringe, ela foi literalmente empurrada por um grupo de malucos.
O link foi interrompido, o que gerou um mal estar geral na equipe do telejornal. Os âncoras Evaristo Costa e Sandra Annemberg, visivelmente indignados, não puderam deixar de comentar o fato: “Que deselegante”, disse Sandra.
Momentos depois, de volta à matéria, ainda ao vivo, a repórter confessou: “Levei um susto enorme, estou tremendo (...). Em vinte anos de profissão isso nunca me aconteceu”.
O vídeo com as imagens se alastrou por computadores país afora, minutos depois. Foram várias postagens no YouTube, cada uma com cerca de 250 visualizações.
Não é a primeira vez que os tais Merds aprontam essa.
No sábado (29), foi a vez do repórter José Roberto Burnier, que aliás estava com Monalisa no empurrão de hoje. Numa entrada que foi ao ar no Jornal Nacional (Globo), enquanto o repórter mostrava a fachada do Sírio-Libanês, pôde-se ouvir claramente alguém gritando (e invadindo o áudio do jornalista): “Cala a boca, Globo. É Merd TV!”.
Os ataques do grupo já vêm acontecendo pelo menos desde março. E o desrespeito não é só com os telespectadores e jornalistas, mas também com autoridades e, principalmente, com seus familiares.
Durante boletim apresentado no SPTV (informativo regional da Globo em São Paulo) em 29 de março, noticiando a morte do ex-vice-presidente José de Alencar, um idiota simplesmente surge atrás do repórter, devidamente paramentado com uma camiseta preta com letras brancas em destaque, que dizia: “Merd TV!”. E ainda gritou: “Merd TV aqui, ó! É Merd TV! Assistam a Merd TV!”. José de Alencar faleceu devido a um câncer no estômago.
Lula está iniciando um tratamento contra um câncer na laringe, diagnosticado no sábado (29). Algumas postagens na internet, particularmente no Facebook, ironizam a doença do ex-presidente com comentários do tipo “porquê ele (Lula) não usa o SUS para se tratar?”.


Os comentários geraram diversos protestos na rede, incluindo uma espécie de selo que passou a circular no Facebook, nos murais de centenas de internautas, com os dizeres: “Essa pessoa não vê graça nenhuma e nem ironia no câncer. Desejo melhoras ao Lula e a todos os portadores de câncer, no SUS ou na rede privada”.


Segundo o médico Paulo Hoff, que faz parte da equipe médica que acompanha Lula, esse tipo de tumor é mais comum nesta região do corpo e, portanto, "não houve surpresas". O médico afirma ainda que o tumor pode ser considerado de agressividade média.
Mas, ainda assim, é um câncer.


Franco-atiradores e cabotinos


A princípio, a impressão que o telespectador pode ter é que se trata de um protesto político ou contra a Rede Globo. Só que não é.
Segundo a Folha.com (UOL), “quase todas as emissoras já foram vítimas (dos Merds) nos últimos meses, mas o grupo tem preferência pela Globo”.
Portanto, o que se pode presumir é que são pessoas que querem aparecer, custe o que custar (sem querer comparar ou ofender o excelente humorístico da Band).
Talvez com o intuito de empurrar goela abaixo do público um, digamos, novo tipo de humor e, quem sabe, serem notados pela mídia até ganharem um contrato em alguma emissora para protagonizarem um novo programa na linha do “Pânico na TV” (que, cá entre nós, melhorou bem desde que surgiu, apesar de algumas sandices), esses sujeitos atiram para todos os lados, a torto e a direito.
Os Merds que aparecem nas intervenções não parecem ser pessoas incultas ou apenas fanfarrões. Eles até têm cara de universitários. Talvez pensem, em suas mentes desocupadas, em “revolucionar” o humor misturando elementos criados pela turma do Casseta & Planeta, que por sua vez se inspirou no humor criado pelo grupo inglês Monty Python (com conotação mais política e sátira de costumes), o escracho do pessoal do “Pânico na TV” e uma pitada do humor político do CQC.
É uma mistura explosiva, desagradável, ofensiva e sem graça. O suprassumo da futilidade e da vaidade.
O que esses idiotas não perceberam (além de sua própria burrice), é que será difícil alguma emissora séria pensar em adotar em sua grade um humor desse tipo. Até mesmo na internet (leia-se YouTube) não há praticamente nenhuma menção sobre o grupelho Merd, em quase um ano de “atividade”.
A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) divulgou nota de repúdio contra as intervenções dos Merds. A Globo, por sua vez, pretende adotar medidas judiciais severas contra o grupo, uma vez que agora houve agressão física.
Mas como os próprios Cassetas diziam, “a esperança é a última que morre. Mas morre”.
Vai saber se em breve, ao ligarmos a TV e, numa noite sem atrativos enquanto mudamos de canal, nos deparados com a chamada: “A seguir assistam Merd TV!”. Aí a esperança morre mesmo.

EM TEMPO
Em entrevista ao UOL por telefone, o rapaz que se diz responsável pela invasão afirmou que não teve intenção de agredir a jornalista. “O nosso intuito não é agredir ninguém, é só invadir os links da Rede Globo,” disse, referindo-se às transmissões ao vivo da emissora. No ano passado, o mesmo grupo atrapalhou reportagens de César Tralli, na Globo.

O rapaz declarou também que teria sido empurrado pelos seguranças da Rede Globo no momento em que se chocou com Monalisa Perrone ao vivo. “No vídeo, você pode ver que eu digo o seguinte: ‘Me derrubaram aqui’”.
A Globo divulgou no jornal "SPTV" na noite desta segunda (31) que registrou boletim de ocorrência e estuda tomar medidas legais contra o grupo que empurrou a jornalista Monalisa Perrone durante reportagem em frente ao hospital Sírio-Libanês.

Um comentário: