terça-feira, 26 de outubro de 2010

Filmes - Sugestão do blog

A Marcha dos Pinguins


Uma impressionante saga de amor e vida. E muitas lições


Erick Vizoki 
“O que há no pingüim imperador e em seus domínios no território inóspito da Antártida que nos faz olhá-los maravilhados e de queixo caído? Com certeza, ele é uma das criações mais estranhas da natureza. Esse animal, que na verdade é uma ave, é tão engraçado quanto nobre na aparência”. O texto acima foi transcrito (ou, na linguagem atual, “copy/cole”) do portal Terra, no link Cinema & DVD (http://cinema.terra.com.br/ficha/0,,TIC-OI5592-MNfilmes,00.html). É o lead de uma resenha sobre o documentário franco-americano de 2005, “A Marcha dos Pinguins” (La Marche de L´Empereur). Dirigido por Luc Jacquet, a versão dublada em português traz como “bônus” as vozes de Antônio Fagundes e Patrícia Pillar. Para ilustrar melhor a minha opinião, resolvi colocar o tal lead publicado pelo Terra, como introdução. O texto é creditado à Reuters, não identifica o autor. Certamente, seja lá quem escreveu isso sequer se deu ao trabalho de ver algumas cenas, pelo menos. Provavelmente essa desestimuladora introdução foi inspirada em desenhos animados ou propagandas de cerveja. “Esse animal, que na verdade é uma ave, é tão engraçado quanto nobre na aparência”. Essa “afirmação” está no lead, antes do início do texto, para orientar o leitor. Estaria ótimo se o autor conhecesse qualquer coisa sobre pinguins que fosse além de “Chilly Willy”. Ou se tivesse assistido alguns trechinhos do filme. Em primeiro lugar, é absolutamente desnecessário dizer “Esse animal, que na verdade é uma ave (...)”. Mas até aí, tudo bem. Mas dizer que "(...) é tão engraçado quanto nobre na aparência.”, é inépcia. Eles são simpáticos e bonitinhos, mas não há nada de engraçado nos pinguins imperadores. E sua aparência não é tão nobre. É o maior de sua espécie, mas é uma ave gorda e desajeitada.
O que há neste belo documentário é a homenagem à essência da vida, em suas circunstâncias mais radicais. Os pinguins imperadores talvez sejam as criaturas que vivem nas condições mais adversas e hostis do planeta. Ainda assim, perpetuam sua espécie de maneira obstinada, suportando temperaturas de -60ºC e a fome, por cerca de quatro meses durante o inverno antártico. Narrado quase como um poema, o texto parte do ponto de vista dos protagonistas, os próprios pinguins imperadores. A escolha de Antônio Fagundes e Patrícia Pillar para a dublagem nacional não deve ter sido aleatória. Provavelmente tenha sido em respeito aos narradores originais, tão respeitados quanto eles: Charles Berling, Romane Bohringer e Jules Sitruk (que fazem as “vozes” do casal central e seu filhote, respectivamente), na versão francesa, e Morgan Freeman na versão norte-americana. Para arredondar o status, a produção faturou o Oscar de Melhor Documentário (2006), arrecadou cerca de US$ 122 milhões em todo mundo e é o documentário mais visto na história Brasil e o segundo no ranking nos EUA, perdendo apenas para “Fahrenheit 11/09” (2004). 

Lição de amor 

De minha parte, considero uma produção caprichada, feita mesmo com muita dedicação e empenho. A ideia da narração subjetiva deu o tom “humano” no drama vivido por essas aves. Não que a narração fosse absolutamente necessária para nos comover com a saga dos pinguins imperadores, mas ela a potencializa e nos faz sentir esse drama. A primeira vez que vi algo mais profundo sobre o modo de vida desses pinguins foi na impressionante série “Planeta Terra” (2007), da BBC, no episódio sobre as regiões polares. Fiquei fascinado. A imagem de Chilly Willy dissipou-se totalmente e me dei conta de como somos definitivamente frágeis e fúteis. O sofrimento, o amor à vida e a fidelidade desses animais são de graus tão elevados que fogem à nossa compreensão. A vida e o ciclo de vida dos pinguins imperadores talvez sejam a mais pura lição de amor que podemos aprender.

A família pinguim

Antes de se encontrarem, senhor e senhora pinguim eram absolutamente estranhos e a batalha para se conhecerem foi uma saga. Depois que se conhecem, praticamente se “casam” e um compromisso inabalável é naturalmente firmado. 
Após as devidas “núpcias”, senhora pinguim dá à luz a um ovo e depois dá no pé. O inverno antártico se aproxima e ela não conseguirá suportar. Deixa o rebento aos cuidados do pai e vai embora em busca de alimento e sobrevivência. Por longos quatro meses o senhor pinguim cuida daquele ovo, protegendo-o de um frio insuportável para nós, na ordem de -60ºC, e sem se alimentar. Quando o inverno está finalmente terminando, papai pinguim dá ao já nascido filhote sua última reserva de alimento, que ele guardou nesses meses em seu estômago exclusivamente para esse fim. 
Os dois, pai e filho, morreriam se não fossem as fêmeas. Terminado o terrível inverno, elas voltam para seus pares e filhotes, cada uma com provisões em seu estômago suficientes para o senhor pinguim e pinguim júnior sobreviverem. 
O que mais impressiona nesses animais são os aguçados instintos paternal e maternal. Se os pais suportaram o mais cruel dos invernos para preservar suas crias, as mães, caso percam as suas, lutam para conseguir uma, nem que seja tomando das outras. Dona pinguim fará de tudo para poder ter e criar um filhote. 
“A Marcha dos Pinguins” é um relato real, muito real, do que talvez signifique a vida. Mostra que a dedicação, companheirismo, fidelidade e amor podem existir nas condições mais improváveis. Talvez os pinguins imperadores nos ensinem que ninguém os ensinou a sobreviver e que regras deveriam seguir. Eles existem independentemente de credos, regras e condições mínimas para viver. Suportam sua vida como devem suportar, assumem seus laços e seus papéis e encantam a todos nós. E certamente são melhores que nós. 

A MARCHA DOS PINGUINS 
(La Marche de L'Empereur, França/EUA, 2005) 
Gênero: Documentário 
Direção: Luc Jacquet 
Atores (vozes): Charles Berling, Romane Bohringer, Jules Sitruk (França), Morgan Freeman (EUA), Antônio Fagundes, Patrícia Pillar (Brasil) 
Duração: 85 min 

Trailer http://www.youtube.com/watch?v=0Sv_XfMVQ2g

Um comentário:

  1. E uma historia realmente muito emocionante...um exemplo de amor, familia, que deveriamos seguir .....

    Silvia...

    ResponderExcluir