Erick Vizoki
Como são as coisas...
O jornal ‘O
Estado de São Paulo’ publicou hoje, 25/02/2019, uma interessante e importante
matéria sobre a situação dos sindicatos no Brasil após a implantação da reforma
trabalhista em julho de 2017. Matéria um pouco tardia, uma vez que já se
passaram quase dois anos de sua aprovação.
Neste mesmo
Bloki publiquei matéria, em 16/05/2017, sobre o que pensa dois veteranos sindicalistas
sobre o fim do imposto sindical.
Antes da
Constituição de 1988 os sindicatos de trabalhadores eram mais fortes, pois já
agregavam diversas categorias profissionais diferenciadas dentro de um único
sindicato. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, por exemplo, já foi um
dos sindicatos mais poderosos da América Latina, e é um dos modelos mais
notórios da situação em que se encontra o movimento sindical hoje. Muitos
sindicatos de trabalhadores tinham nomes gigantescos, por conta das categorias
profissionais que representavam. Hoje, esses nomes estão se reduzindo cada vez
mais.
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Assembleia de trabalhadores das áreas de alimentação e frigoríficos aprovam fusão de sindicatos (Foto: David Paiva/Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação de São Paulo) |
Após a Constituição de 1988, que deu mais "liberdade" aos sindicatos,
livrando-os das amarras do Ministério do Trabalho e do Estado, e ficou muito
mais fácil criar novos sindicatos, o que houve foi uma dissolução de diversas
entidades sindicais. No exemplo citado, o Sindicato dos Metalúrgicos de São
Paulo agregava trabalhadores de diversos ramos, como os setores automobilístico,
de refrigeração, fábricas de parafusos, ferramentas, tornearia, entre diversos
outros. Depois de 1988, diversos novos sindicatos de trabalhadores surgiram,
para representar categorias mais específicas. Com isso, sindicatos como o dos
metalúrgicos acabaram se dissolvendo em dezenas de outros sindicatos menores, o
que enfraqueceu sua representatividade. Sindicatos de bancários, por exemplo,
que representavam trabalhadores em geral que trabalhavam em agências bancárias,
também perderam associados. Surgiram sindicatos de gerentes de bancos, de
procuradores de bancos, de contínuos e por aí vai.
O fenômeno que vemos agora é uma espécie de "volta às origens". Com o
fim do imposto sindical, diversas entidades sindicais estão voltando a se
fundir para conseguir aumentar o número de seus associados e assim conseguir
manter o padrão de serviços oferecidos outrora. Muitos sindicatos tinham até
gráfica própria para imprimir seus informativos. Desde 1988, com o tempo, os
sindicatos foram, aos poucos, abrindo mão dessa estrutura. Quem ganhou, com
isso, foi a indústria gráfica.
As colônias de férias próprias de diversos sindicatos acabaram se transformando
numa grande dor de cabeça. Com o enxugamento na arrecadação, ficou mais difícil
arcar com o IPTU dessas estruturas, pagar funcionários e investir em
infraestrutura. A solução foi abrir as colônias de férias para outras categorias
profissionais e até mesmo para o público em geral. Ou fechá-las.
Atualmente temos quase 17 mil entidades sindicais no Brasil, entre sindicatos
de trabalhadores e de empregadores. É o país com o maior número de sindicatos
no mundo. Donde concluímos ser um grande negócio, assim como igrejas
evangélicas, outro promissor nicho de faturamento baseado na doutrinação.
Para se ter uma ideia, a título de comparação, o Reino Unido possui 168
sindicatos; Dinamarca, 164; Argentina, 91 sindicatos; EUA e África do Sul, 190;
Alemanha, 16 (números aproximados).
"O número de sindicatos saiu tanto do controle que há casos esdrúxulos
como o 'Sindicato dos Empregados em Entidades Sindicais do Estado de São
Paulo', o 'Sindicato das Indústrias de Camisas para Homens e Roupas Brancas de
Confecção e Chapéus de Senhoras do Município do Rio de Janeiro' e o 'Sindicato
da Indústria de Guarda Chuvas e Bengalas de São Paulo', posteriormente fechado
por falta de associados (Fonte: Ilisp)
O fim do imposto sindical foi comemorado por grande parte da sociedade civil, e
até mesmo de trabalhadores, que eram tungados com um desconto injusto em seus
contracheques de um dia de trabalho todo ano, mesmo sem serem sindicalizados. O
resultado foi a criação de centenas de sindicatos fantasmas, que só existiam no
papel, em gavetas, ou mesmo sindicatos inertes, pelegos, sem
representatividade, que nem sequer tinham sede ou endereço. Existiam apenas
para receber o famigerado imposto sindical.
Agora a história é outra. Ou a mesma de antes. Sindicatos decanos, com megaestruturas,
precisam se reinventar e voltar a agregar as categorias diferenciadas, como
antes. Os sindicatos de cartório devem morrer, um a um, em breve, justamente
por falta de atividade e de representatividade. Que assim seja.
Vale ressaltar que esses sindicatos de trabalhadores são, em sua esmagadora
maioria, dirigidos por militantes de esquerda. Não é preciso ser muito
esclarecido ou inteligente para atentar ao fato de que muitos sindicatos
surgiram por pura ganância de seus dirigentes. Trabalho zero, dinheiro muito. O
jogo virou. Agora os sindicalistas terão de mostrar serviço e, pior, não
poderão contar com um governo de esquerda, conivente com o butim conquistado
com mentiras e traições aos trabalhadores. Sim, porque existem muitos
sindicalistas "fura-greves", que se vendem para as empresas em
detrimento da causa dos seus representados.
É... O País
está mudando.
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