A imprensa defendida por abutres
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Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ligado à CUT do PT, sai em defesa do ex-presidente que considera a imprensa seu maior inimigo. (Foto: SJSP/Reprodução) |
Erick
Vizoki
Não somos Alices, mas
parece que vivemos num Brasil que mais lembra o País das Maravilhas. Um mundo distópico,
que beira o surreal.
Não bastasse o
bombardeio de mentiras e falácias propagadas pela nossa maravilhosa classe
política, agora algumas entidades defensoras da imprensa e de jornalistas embarcaram
nesse jogo.
No último dia 10/03, a
Globo divulgou, através do Jornal Nacional, uma carta em protesto contra os atos de violência a jornalistas e
meios de comunicação. O documento está assinado pela Abert (Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), a Abratel (Associação Brasileira
de Rádio e Televisão), a Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas), a
ANJ (Associação Nacional de Jornais) e o escritório da Unesco no Brasil.
Um trecho que justifica
o texto divulgado por essas entidades: “Nos últimos dias, uma sucessão de atos
de intimidação e de agressões vem sendo praticada contra jornalistas, no
exercício da profissão, e os meios de comunicação. Tais acontecimentos somam-se
aos 116 casos de ameaças, intimidações, vandalismos, agressões físicas e
homicídios praticados contra os profissionais da imprensa no ano de 2015, e que
colocam o país no ranking de quinto local do mundo mais arriscado para o
exercício da profissão”.
Tudo muito bom, tudo
muito bem, não fosse por um detalhe: A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
não está entre os signatários da carta, assim como seus sindicatos filiados.
Mas a matéria divulgada pela Globo citou que a Fenaj, assim como a Abraji
(Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) , publicaram nota no mesmo
dia, independentemente. Segundo a matéria do Jornal Nacional, a Fenaj “pediu ao
Ministério da Justiça que garanta a integridade e o trabalho dos jornalistas
com uma orientação às forças policiais para que evitem agressões”. A Fenaj ainda
teria reconhecido “o direito de todos os cidadãos de protestar e criticar as
instituições do país, inclusive a própria imprensa. E observa que os excessos
só interessam aos inimigos da democracia”.
Contradições de quem não poderia se contradizer
Comportamento no mínimo
contraditório para uma entidade filiada justamente a um dos grupos que mais
agridem jornalistas, que é a CUT (Central Única dos Trabalhadores), tentáculo
sindical ligado umbilicalmente ao PT. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais
de São Paulo também é filiado à CUT e à Fenaj e declarou, abertamente, apoio ao
ex-presidente Lula, o que é, pelo menos em minha opinião, um atentado contra a
isenção jornalística. O apoio foi descaradamente publicado no próprio site da
entidade sob o título “SJSP apoia frente ampla em defesa de Lula e contra o golpe, convocada pela CUT”.
E as contradições não
param por aí. Outro trecho da matéria do Jornal Nacional: “Na última semana,
jornalistas da TV Globo e da GloboNews foram agredidos e tiveram equipamentos
danificados por militantes petistas. Houve protestos na porta da TV Globo no
Rio de Janeiro e em Brasília, promovidos pela CUT. Um grupo jogou ovos e
tomates na TV Liberal, afiliada da Globo em Belém. E uma equipe da Band, em
Cascavel, no Paraná, foi sequestrada por integrantes do MST”. O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra
(MST), também é outro tentáculo petista, rotulado de “movimento social”. Um dia
antes do sequestro no Paraná (08/03), cerca de 70 integrantes do “movimento
social” invadiram a sede do Grupo Jaime Câmara, em Goiânia. O prédio abriga,
entre outros veículos, a TV Anhanguera (afiliada da Rede Globo em Goiás) a
rádio CBN e o jornal O Popular, segundo informa o site do jornal Correio Braziliense.
Pode até parecer que a
Globo é a única vítima das facções petistas, mas os atentados contra
jornalistas da Band e de diversos veículos impressos mostram o ódio e a
repressão à imprensa patrocinados pelo regime lulopetista.
Ironicamente, o partido
do governo publicou em seu jornal estatal online, “Brasil 247”, que apenas sete famílias brasileiras controlam 70% da imprensa no
País. Só esqueceram de mencionar que entre essas famílias, pelo menos duas são
aliados de primeira hora do governo. A família Sarney, no Maranhão, e a família
Collor, em Alagoas.
Assim sendo, está
ficando cada vez mais difícil saber no que e em quem acreditar.
Definitivamente, a Fenaj, ao lado de seu filiado de São Paulo, se mostram dois
dos maiores abutres a tentar controlar a imprensa ao invés de defendê-la, em
flagrante favorecimento a quem seria seu maior “desafeto”, o próprio Lula!
“Mas os poços da fantasia acabam sempre por secar e o contador de
histórias, cansado tentou escapar como podia: o resto amanhã... Já é amanhã”.
(Lewis Carol, em “Alice no País das Maravilhas”)